Perspectiva Histórica
O retorno da volatilidade em Maio faz com que manchetes sobre #manipulação dos mercados financeiros tomem conta das primeiras páginas de jornais ao redor do mundo. Sexta-feira passada foi o aniversário dos 227 anos de criação da bolsa de Nova Iorque (17 de Maio de 1792), e os gritos de manipulação dos mercados de capital continuam (e lhes garanto que sempre continuará) a ecoar nos quatro cantos da terra. Manipulação não é novidade no mercado de capital; na verdade existem argumentos que a própria criação da Bolsa de NY foi uma tremenda manipulação.
O Começo do Fim?
Naquela época existiam normalmente dois tipos de participantes dos mercados de capital que se formavam ao redor dos EUA. Em Nova Iorque, comerciantes e leiloeiros (ambos exercendo as funções de investidores e/ou especuladores), se encontravam em vários lugares na parte baixa de Manhattan (downtown) para negociar instrumentos financeiros da época (títulos/debentures para guerra, ações do “First Bank of the U.S.” e do “Bank of New York”, entre outros instrumentos governamentais).
Os leiloeiros (normalmente aristocratas) eram os “superpoderosos”; em sua maioria influenciadores da política e economia da época. Eles presidiam as negociações que aconteciam ao ar livre, ao redor de uma árvore de “Buttonwood” nos arredores da famosa esquina de Wall Street com a Broad Street.
O louco é que era aceitável entres os participantes desse mercado arcaico, as práticas manipulativas, extorsivas e até destrutivas daqueles que tinham dinheiro e poder. Além de comissões exorbitantes, nenhum tipo de lei ou negociações justas eram observadas. Não demorou muito até que comerciantes e especuladores, várias vezes tão poderosos quanto os leiloeiros, encheram o saco dessa situação e começaram a se encontrar para planejar, ou melhor tramar, um golpe contra aquele esquema corrompido. Em Março de 1792, vinte e quatro comerciantes se encontram em segredo no “Corre’s Hotel”, onde hoje se encontram o Trump building, para planejar o ataque.
Dois meses depois revelaram publicamente um acordo assinado por eles chamado de “Buttonwood Agreement” em homenagem a árvore em que eles se encontravam para fazer seus negócios. O documento implicava que todos os vinte e quatro comerciantes passariam a negociar exclusivamente entre si, e entre aqueles que a partir de então quisessem ingressar no acordo e seguir suas regras; uma delas, a comissão fixa de 0.25% do valor negociado ou da operação efetuada no local. Assim, esse momento “kumbaya” instituiu de fato o começo de um monopólio que viria a controlar e autorregular o comércio de instrumentos financeiros no EUA. Os leiloeiros por fim quebraram!!!!
No início foi uma maravilha, já que a partir de então começou a existir “ordem no bordel”. Porém, com o tempo a linha tênue entre monopólio e máfia começou a aparecer; assim, aqueles que não aceitavam as regras e se encontravam do outro lado da transação com o monopólio eram perseguidos e se davam mal.
Em resumo, sempre existiu e vai existir manipulações, “insiders”, malandros, participantes sem escrúpulos e com vantagens maiores do que outros. Porém não há dúvida sobre os benefícios e as oportunidades que um mercado de capital desenvolvido traz para a sociedade. Tambem, não há dúvida que existiu uma evolução dos mercados e suas regras tornaram eles um pouco mais justo. Dito isso, a melhor maneira de nos protegermos contra as adversidades inerente do mercado de capital ainda é o uso do tempo ao nosso favor e a possibilidade de diversificarmos nossos riscos.
Afinal…
“A natureza do homem não muda. Assim sendo, os mercados financeiros nunca mudam. Somente os rostos, os bolsos, os otários, os sabidos, os expertos, os manipuladores, as guerras, os desastres e as tecnologias é quem mudam. O mercado em si nunca muda. Afinal, como poderia?
A natureza do homem não muda e é a natureza do homem através de seu comportamento que influencia o mercado. Não é razão; não é economia; e certamente não é a lógica. São os nossos viés emocionais e erros cognitivos que influenciam o mercado, como muitas outras coisas nesse planeta”.
Jesse Livermore em “Reminiscences of a Stock Operator” do Edwin Lefevre.
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